VIDA LONGA AO REI!
Conheça a trajetória de Jack Kirby, o criador de deuses que virou uma lenda!
Conheça a trajetória de Jack Kirby, o criador de deuses que virou uma lenda!
Usando casaco e uma boina, trazendo em mãos uma revista de aventuras ilustradas num papel vagabundo, um rapazote adentra o terreno enlameado na Rua Suffolk. Ele está satisfeito. Enfrentar bandidos, viajar por países exóticos, encontrar monstros inimagináveis, aquela era sua grande alegria. Mergulhado nos textos e nas fascinantes ilustrações, era sua maneira de esquecer o dia a dia naquele bairro pobre de Nova York. Mas antes de chegar à sua casa, ele encontra um bando de garotos. Ele os reconhece. Vai começar tudo de novo.
- Ei, Jacob? Qual é? Tá achando que vou deixar barato o que me fez ontem?
- Foi você que começou.
- Anda, aqui! Vamos ver se foi só coisa de momento!
- Tá... Foi você que pediu! - retruca abrindo um leve sorriso.
- Foi você que começou.
- Anda, aqui! Vamos ver se foi só coisa de momento!
- Tá... Foi você que pediu! - retruca abrindo um leve sorriso.
Os outros garotos fazem uma roda. Jacob deixa a revista num local seguro e parte para a briga, sem pestanejar. ?Lutar se tornou uma segunda vida. Eu comecei a gostar daquilo?, diria mais tarde o menino que um dia fora Jacob Kurtzberg. Pois assim que o mundo o conheceu, o garoto de brigas de rua não mais existia, mas sim, o homem de brigas interestelares, de alter-egos fantásticos, de oponentes titânicos, de arte eterna. Ele era Jack Kirby.
INDO COM TUDO!
Filho de imigrantes austríacos e nascido em agosto de 1917, Jacob Kurtzberg desde cedo se sentiu atraído pelo desenho e aprendia tudo o que fosse possível acerca da arte. Além das pulp fictions, as tais revistas de aventuras, seu grande passatempo era acompanhar os trabalhos de desenhistas de tiras, tais como Milton Caniff (1907-1988), autor de Terry e os Piratas; Hal Foster (1892-1982), autor de Príncipe Valente e Alex Raymond (1909-1956), criador de Flash Gordon, como está em sua biografia Kirby: King of Comics, lançada ano passado pelo roteirista e amigo de Kirby, Mark Evanier (Groo).
Admirando as ilustrações, ele começou a praticar e dali a pouco já era um autodidata. Aos 14 anos, determinado a seguir a carreira, Jacob se matriculou no Pratt Institute, uma escola de artes da época, mas o instituto tinha regras bastante severas, que limitavam a inventividade do jovem artista. Em entrevista ao The Comics Journal, em 1990, Kirby disse: ?Eu não era o tipo de estudante que o Pratt estava procurando. Eles queriam pessoas que pudessem trabalhar num mesmo projeto pra sempre. Eu não queria trabalhar em qualquer projeto pra sempre.? Tal frase sintetiza boa parte do que foi a carreira do artista.
Obviamente, essa primeira frustração não diminuiu a vontade de Jacob em seguir sua vocação. Em 1936, já com seus 18 anos, ele conseguiu um emprego na Lincoln Newspaper Syndicate, uma das maiores empresas no segmento das tiras de jornal, desenhando esse tipo de mídia sob o pseudônimo Jack Curtiss. Sua carreira na Lincoln durou apenas três anos e em 1939, Jacob teve seu primeiro contato com o mundo da animação, ao emprestar sua arte aos Estúdios Max Fleischer, famosos pelos desenhos animados de Popeye, Betty Boop e a clássica animação de Superman. Todavia, a produção em larga escala de desenhos não agradava ao artista e Kurtzberg percebeu que sua grande realização poderia vir das histórias em quadrinhos, que vivam sua fase áurea.
Nessa onda, acabou batendo na porta do Estúdio Eisner-Iger, de propriedade de Will Eisner (1917-2005) e Jerry Iger (1903-1990), onde acabou acolhido, escrevendo e desenhando suas primeiras aventuras na revista Wild Boy Magazine. Seus temas foram desde a ficção científica, com The Diary of Dr. Hayward; passando por faroeste com Wilton Of The West e indo até adaptações literárias como The Count Of Monte Cristo (O Conde de Monte Cristo). Durante esse período, Jacob utilizou vários pseudônimos como Curt Davis, Fred Sande, Jack Curtiss outra vez e até simplesmente Teddy. Finalmente, em homenagem ao ator James Cagney (1899-1986), ele escolheu Jack Kirby como seu nome artístico devido à sonoridade similar. Apesar de a intenção ser apenas facilitar a promoção de seu nome junto aos leitores e empresas, comentários maldosos alegavam que essa mudança teria sido em face de Kirby querer esconder sua origem judia, o que deixava o quadrinista profundamente ofendido.
Em 1940, a família Kurtzberg se mudou para o bairro do Brooklyn, passando a residir num apartamento. Foi lá que Jack conheceu Rosalind Goldstein, que morava no mesmo prédio. O casal passou a se encontrar com freqüência e quando Rosalind - carinhosamente chamada Roz - fez dezoito anos, Kirby a pediu em namoro e os dois engataram um romance.
O PARCEIRO E O CAPITÃO
Nesse mesmo período, em nome de melhorias salariais, Jack foi para a Fox Feature Syndicate. Lá, deu vazão às suas experimentações no gênero super-herói trabalhando no personagem Blue Beetle (Besouro Azul), criado pelo pseudônimo Charles Nicholas, que foi utilizado por mais dois artistas além de Kirby. Na época, era muito comum que as editoras criassem pseudônimos para autores de suas séries, quando na verdade vários quadrinistas se revezavam no trabalho de criação. O método era um mecanismo de manter o público fiel, dando uma idéia de continuidade aos leitores. Mas o período como Charles Nicholas durou apenas três meses. Nesse tempo, ele conheceu um dos mais fundamentais parceiros em sua carreira: Joe Simon.
Colaborando no título Blue Bolt, inicialmente Simon escrevia e desenhava as aventuras, enquanto Jack ficava com a arte-final. Contudo, a técnica de Kirby e sua velocidade acabaram invertendo os papéis em pouco tempo. O sucesso da dupla chamou a atenção dos leitores e dos editores da época, dentre eles Martin Goodman (1908-1992), o diretor-editorial da Timely Comics.
O ano era 1941. A Segunda Guerra Mundial estava no auge e a Alemanha de Hitler avançava assustadoramente sobre a Europa. Mesmo àquela época, os Estados Unidos não estavam envolvidos diretamente no conflito, concedendo apenas um tímido auxílio aos britânicos na resistência. Mesmo assim, heróis patrióticos pipocavam pelos quadrinhos do período, e um dos mais famosos era o Escudo (The Shield, no original), criado por Irv Novick (1916-2004) e lançado em janeiro de 1940 pela Pep Comics. Percebendo o potencial de um personagem assim, Goodman encomendou um personagem nesse estilo para a promissora dupla. Nascia a lenda.
Em março de 1941, com texto de Simon e arte de Kirby, nascia o Capitão América, cuja primeira capa, decidida em uma reunião editorial, entrou para a história: o herói com as cores da bandeira estadunidense dando um soco no führer Adolf Hitler. O personagem virou um sucesso espetacular, suplantando qualquer outro herói patriótico. Com milhões de exemplares vendidos após algumas edições, Joe Simon e Jack Kirby exigiram melhores salários de Goodman, que recusou a proposta, o que fez com que a dupla deixasse a Timely e procurasse lugar em outra editora. No caso, a National Comics, a futura DC!
Por Valdemar Morais - Fanboy
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