segunda-feira, 9 de abril de 2012

Como foi a Mesa Redonda Possibilidades Quadrinhísticas

Por Impulso HQ


Texto enviado por – Ivoneide Souto
A mesa redonda Possibilidades Quadrinhísticas ocorreu no dia 14 de março de 2012, no auditório do CEMUNI 4, do Centro de Artes da UFES, em Vitória-ES. A atividade foi direcionada para profissionais, estudantes, acadêmicos, produtores e demais interessados em aprofundar as discussões sobre Histórias em Quadrinhos no Espírito Santo.
Com mediação da professora Priscila Garone, representante da universidade, a mesa para o debate contou com a colaboração dos participantes: Rafael Leite (Abel), Fábio Turbay, Manoel Ricardo e Marcos Antônio Sacramento.
Possibilidades Quadrinhísticas favoreceu a troca de conhecimentos, práticas, técnicas e experiências, e tendências de mercado entre aos interessados. O resultado deste encontro confirma que a disseminação da cultura, design, comunicação e arte são fomentadas no Espírito Santo através de histórias em quadrinhos graças à persistência de alguns quadrinhístas que buscam alternativas criativas e o apoio das poucas leis de incentivo existentes no Estado para publicar suas HQ’s.
Tudo indica que ainda são poucos os autores de quadrinhos do ES que se juntam no sentido de fazer algum esforço pra alimentá-lo, mas no que depender dos integrantes da mesa, eles vão persistir e vão aproveitar todas as facilidades oferecidas pelas novas Tecnologias e pela Internet.
Da esquerda para a direita: os convidados Manoel Ricardo, Marcos Antônio Sacramento, Fábio Turbay, Rafael Leite e a mediadora Priscila Garone
OS MERCADOS ESPIRITOSANTENSE E BRASILEIRO PARA A PRODUÇÃO DE QUADRINHOS

Rafael Leite (Abel) é otimista quanto ao crescimento do mercado de quadrinhos de modo geral.
“Este mercado tende a crescer, tanto no sentido de produção quanto no sentido de reconhecimento. As livrarias estão começando a investir pesado nesses produtos e muitas editoras estão criando selos editoriais específicos de quadrinhos, um exemplo é a Companhia das Letras e LP&M. Temos muita gente produzindo quadrinhos no Brasil, e estamos sendo cada vez mais reconhecidos e valorizados lá fora. Aqui no ES o cenário deste mercado é fraco ainda e os autores de quadrinhos raramente se juntam no sentido de fazer algum esforço pra alimentá-lo. Apesar disso, já conseguimos ter todo tipo de produção, em vários estilos, e vemos pessoas que se publicam ou que publicam suas produções a partir do edital lançado pela Secult, que é um dos maiores sinais do crescimento da área aqui no estado”, explica.
Fábio Turbay disse que seria injusto afirmar que o mercado de quadrinhos inexiste no ES. Ele aposta mais na internet como suporte ideal para gerenciar produção própria, pois é na rede que o contato com os leitores é mais direto.
“Existe também a possibilidade de se trabalhar com editoras e publicações já estabelecidas no mercado, ou mesmo a produção de material institucional para empresas e agências de publicidade. Claro que o grande objetivo de quem quer entrar nesse ramo é o de contar suas próprias histórias. Enquanto não surge a oportunidade ideal, nada te impede de se aperfeiçoar por meio dessas outras opções”, disse.
Para Manoel Ricardo, o mercado de quadrinhos capixaba é inexistente. Ele cita exemplos de como publicar. “Cavar oportunidades agregando parceiros em publicações isoladas e sem lucro; ou em quadrinhos institucionais, com conteúdo educativo e ainda transmitindo um conteúdo específico de interesse de alguma empresa ou corporação pública, sendo sempre de tom, não de entretenimento, mas informativo; ou por iniciativa pública, aprovando projetos em editais de leis de incentivo. Dessas opções, a única que pode ser considerada de potencial mercadológico é a história em quadrinhos institucional, haja vista o potencial de ensino existente na linguagem dos quadrinhos”. Não existem editoras abertamente interessadas em publicar quadrinhos e a onerosa distribuição em bancas fica fora de cogitação”, afirma.
Marcos Antônio Sacramento vê ótimas possibilidades para publicação de quadrinhos voltados para o público adulto, como Maus, de Art Spielgeman, que fala sobre as lembranças de uma vítima do holocausto, e as adaptações de clássicos da literatura como Shakespeare para HQ, por exemplo.
SOBRE O FUTURO DAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS ENQUANTO MÍDIA E LINGUAGEM
O futuro é brilhante, o potencial é infinito e sempre haverá espaço para as histórias em quadrinhos. Com as novas tecnologias, que oferecem uma experiência de leitura parecida com a dos livros, poderá abrir mais uma frente para os criadores de quadrinhos. Os quadrinhos de banca tendem a desaparecer.
Com a crise do formato americano de publicação e distribuição (e claro, com a Internet e os Tablets), vemos uma grande profusão de variedade no que diz respeito aos quadrinhos. Os artistas estão se esforçando mais claramente no sentido de contar suas próprias histórias sem toda aquela formatação industrial típico do mercado americano. Isso contribui imensamente para o amadurecimento dos quadrinhos enquanto linguagem autônoma, uma vez que os artistas, agora verdadeiros autores, tem mais liberdade para explorar seus próprios potenciais.
Tem muito potencial ainda inexplorado com a linguagem dos quadrinhos, seja ele tradicional ou para o formato de web, abraçando novas possibilidades multimidiáticas. Mesmo com a redução lógica dos artefatos em papel num futuro próprio, muita gente boa deve aparecer no ramo.
Com a popularização dos Tablets, o formato digital só acrescenta, aumentando o alcance aos leitores, apesar do business dos quadrinhos ainda precisar se adaptar a esse futuro. O quadrinho de banca tende a desaparecer, mas o suporte de papel provavelmente persistirá através das livrarias. As produções ficarão mais baratas, principalmente se os roteiros forem testados nos EUA, que é um celeiro de idéias, antes de virarem filmes hollywoodianos. Os tempos mudaram, não dá mais para imaginar um material impresso vendendo na casa das centenas de milhares, como nos anos 80.

QUADRINHOS FEITOS PARA A INTERNET

Para os convidados é uma coisa natural. Tudo está indo para a Internet que é um meio, que exige mais velocidade, e HQ’s com essa proposta já existem com êxito, além de serem adaptadas à navegação. A internet é uma ótima forma de divulgar trabalhos, já que não necessita mais do meio papel para alcançar o seu público. Os Webcomics já existem, eles são quadrinhos feitos exclusivamente para a internet.
É fato que a distribuição de quadrinhos já está irremediavelmente alterada, e praticamente todas as editoras consideram a versão online de suas publicações. Porém a utilização dos novos recursos ainda está em fase de experimentação. É preciso tomar cuidado para não se deixar seduzir pelos efeitos especiais possíveis na telinha. Animação, trilha sonora, hiperlinks. É preciso ter em mente as particularidades da linguagem dos quadrinhos, senão corre o risco de sua HQ acabar virando um desenho animado.
Fãs de HQ em geral concordam que a experiência da leitura no meio digital é incompleta, ou seja, o objeto “gibi” é parte intrínseca da experiência. Sendo assim, o papel e o digital não se anulam, mas se complementam.
O meio digital não vai acabar com a produção tradicional dos quadrinhos. Um dos maiores exemplos disso hoje é o Sean Gordon Murphy, que trabalha com nanquim, pincéis, penas de metal. O processo é o mais tradicional possível, e ele ganha muito dinheiro vendendo originais, exatamente por serem feitos tradicionalmente no mais alto nível artístico possível. As pessoas compram suas páginas por 500 dólares (cada página é aproximadamente um dia de trabalho), emoldura, bota na parede, e fica bebendo vinho olhando praquilo. Se der bobeira faz até um vernissage.
RECOMENDAÇÕES PARA QUEM DESEJA ATUAR NO MERCADO PRODUZINDO QUADRINHOS
1) Saber onde quer chegar. Existem possibilidades diferentes na produção de quadrinhos, que vão desde o formato industrial americano, que tem suas exigências comerciais, até a uma carreira autoral e independente. Todas essas possibilidades têm suas vantagens e dificuldades. Desenhar para as editoras americanas pode ser um trabalho mais demorado de se conseguir, e um pouco menos cativante enquanto carreira artística, mas é um terreno mais seguro profissionalmente e oferece muito mais visibilidade. A carreira autoral tem outras exigências, e o autor tem que fazer muito mais do que desenhar e escrever seus próprios quadrinhos.
Existe todo um cenário de divulgação, distribuição e de trabalho editorial que é essencial para o sucesso de um produto e que pode ser bem diferente de ficar o dia inteiro em cima da prancheta. Embora um caminho não exclua o outro, e seja possível conciliar os dois, o importante é ter em mente seu objetivo enquanto artista. Naturalmente, imprevistos acontecem o tempo todo e nem sempre estão de acordo com os nossos planos, mas ter esses planos são pontos de referência pra direcionar a carreira. O mais importante, entretanto, é produzir. Nada é mais natural do que fazer isso o tempo todo. O ofício artístico, seja ele qual for, é acima de tudo um estilo de vida.
2) Estudar, praticar e produzir. Não tem mistério. Basta repetir as ações dessa frase até o fim da vida. Não se limitem apenas ao desenho de quadrinhos, ao roteiro de quadrinhos. Antes de querer desenhar quadrinhos, a pessoa tem que querer desenhar e ponto. O mesmo vale para o pessoal do texto. Não se limitem ao roteiro de quadrinhos. Escreva contos, resenhas, poesias, romances. Dessa forma você não se limita apenas à área de HQ´s. Quem tem paixão por quadrinhos tem, antes de tudo, paixão pelas histórias. Estejam elas em quaisquer suportes. Então é isso: escreva e desenhe, sempre.
3) Consuma quadrinhos. Os bons e os ruins. De papel, digital, de banca ou de livraria. Quanto mais, melhor. Compreenda quadrinhos. Para tudo há um porque. Descubra quais são os porques. Seja crítico. É bom? É ruim? Por quê? O que poderia ser melhorado? Isso é o seu ego ou seu intelecto falando? Desenhe muito. Toda hora. Não só pra se tornar um desenhista melhor, mas pra manter o estilo e a qualidade do trabalho. Isso se chama ritmo.
Tenha objetivos realistas, mas ambiciosos, e conquiste um degrau de cada vez. Não se iluda: o dinheiro só virá quando conquistar um lugar respeitável na indústria. Faça de tudo: pincel, pena, nanquim, aquarela, acrílica, arte-final digital, colorização digital, para sobrevivência. No fim, o ideal é especializar-se em uma dessas coisas, principalmente se for trabalhar para o mercado americano.
4) Domine o seu idioma e o idioma Inglês. Leia os clássicos da literatura, observe o seu redor. Você não pode escrever uma história ambientada, por exemplo, em plena Cracolândia na Ilha do Príncipe e usar cenários e fisionomias que remetam a filmes de Hollywood. Produzam sem muita pressão de ter sucesso, sempre buscando a perfeição. Você pode ter uma carreira careta que pague suas contas e ao mesmo tempo se dedicar a um belo projeto autoral. Existem vários exemplos nas artes e na literatura de pessoas que dividiram a criação artística com expedientes em escritórios e foram bem sucedidos. Acredite nos editais de incentivo à Cultura.
Colocar um projeto e captar uma verba para realizá-lo é mais fácil do que se pensa. Procure um Coach, alguém mais velho para te orientar. Muitas vezes seu trabalho está indo em uma boa direção, contudo, contém erros que só alguém mais experiente e com sinceridade para criticar poderá te mostrar. Muito cuidado com os elogios. Essa é a pior coisa que existe. 95% dos elogios costumam não prestar, seja por falsidade ou pela absoluta falta de critério daquele que elogia.
LANÇAMENTO DA REVISTA CAPITU nº2
Após a Mesa Redonda, os organizadores ofereceram ao público o Coquetel em comemoração ao lançamento da HQ Capitu# 2. Mil revistas foram publicadas com o apoio da Lei de Incentivo Rubem Braga.

“Os heróis de verdade não estão nas páginas das HQ’s. São os profissionais que, com criatividade, driblam as dificuldades para produzir quadrinhos e que têm o dom de transformá-los em primorosas obras de arte”
. Ivoneide Souto, jornalista.
Galeria de Imagens:

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