Por Gazeta de Alagoas
A depender do grau de informação e da criatividade do autor, as histórias em quadrinhos podem constituir uma das mais completas formas de expressão artística. Mídia que desde os primórdios atinge um público amplo, no Brasil a arte sequencial conquistou crianças e adolescentes numa época em que não havia tantas opções assim de entretenimento – só para lembrar, nas duas primeiras décadas do último século nem as velhas séries das matinês de cinema eram uma realidade comum. De revistas como a pioneira Tico-Tico aos suplementos dominicais dos periódicos até as sofisticadas graphic novels, as HQs ampliaram cada vez mais seu espaço, atingindo um público leitor adulto, aberto a novas formas de linguagem.
A identificação da arte sequencial como mero entretenimento infanto-juvenil, contudo, persiste, e faz a expressão ser alvo de preconceitos de quem a enxerga como cultura “inferior”. Em contrapartida, certa vez o semiólogo italiano Umberto Eco afirmou que somente quando o estudo das HQs tivesse superado o estágio hermético e o público “culto” resolvesse dar-lhes a mesma atenção que oferece à ópera e a outras manifestações culturais “elevadas” é que seria possível entender sua importância.
Enquanto não se atinge esse nível de compreensão, os artistas fazem o que podem para furar o bloqueio ocasionado por esse preconceito, sempre em busca de levar seu trabalho ao público e, mais importante, garantir que a obra cause ressonância e impacto suficientes para não ficar pelo meio do caminho. Com o propósito de fomentar a ainda exígua produção alagoana no segmento, foi criado o Prêmio Alagoas de Histórias em Quadrinhos.
SERVIÇO
Título: Alagoas Sequencial
Autor(es): vários
Editora: Imprensa Oficial Graciliano Ramos
Preço: R$ 25 (111 págs.)
Onde encontrar: Imprensa Oficial, Revistaria Porto Seguro (Farol), livraria da Edufal (Ufal), Banca Ponta Verde, Banca Nacional (Centro), revistaria Revista & Tabaco (Bompreço Ponta Verde)
Resultado de um edital lançado pela Imprensa Oficial Graciliano Ramos no ano passado, o prêmio contemplou sete artistas, cujos trabalhos foram reunidos na antologia Alagoas Sequencial, editada pelo selo Alagoas nos Quadrinhos, da Imprensa Oficial Graciliano Ramos – que deu sua ‘largada’ no mercado editorial de HQs justamente com a publicação do material. Diversificado em seu conteúdo, o volume compila histórias que exploram referências artísticas e estilos os mais variados; dos traços nitidamente inspirados nos quadrinhos japoneses à influência dos gibis mais comerciais do mercado norte-americano, passando por respingos da literatu-ra de cordel, por uma adaptação literária e até pelo roteiro de um projeto audiovisual.
AS OBRAS
De Mizael Oliveira, a HQ Starknight, que abre a antologia, é um dos poucos enredos do livro que não recorrem ao pano de fundo regional. Com evidente influência dos mangás, tanto na forma como no conteúdo (excetuando, claro, o fato da ordem de leitura não ser invertida como nas publicações japonesas tracionais do gênero), o traço de Mizael também lembra vagamente algo do estilo limpo e clássico do veterano ilustrador brasileiro Watson Portela. Por sua vez, Orquídea, de Michel Alves, é uma daquelas clássicas aventuras protagonizadas por equipes de expedição, repleta de clichês vistos à exaustão em produções hollywoodianas, só que com personagens com nomes comuns aos brasileiros e tendo a floresta amazônica como cenário.
Sorte Grande, do designer gráfico Kleber Lessa, que assina a história sob o pseudônimo de Mateo, participa da coletânea com uma adaptação do roteiro do curta-metragem homônimo do realizador Yuri D’Magalhães, e tem no belo trabalho de ilustração sua principal qualidade. Histórias de Alexandre, de Daniel Conti, é outra adaptação, no caso do conto O Olho Torto, de Graciliano Ramos (1892-1953). A Pega, de Izael Gomes, investe na temática regional. Já Preto que nem Carvão, HQ produzida pelo professor universitário Amaro Braga junto com as alunas Janaina Freitas e Mariana Petróvana, é uma história fofinha de afirmação da negritude, enquanto Menino Cuscuz, de Alexandre Azevedo, narra as aventuras de um garoto que, ao fugir de casa, acaba por se envolver com o cangaço.
Calcanhar de Aquiles não só das obras dos artistas de Alagoas, mas reflexo da própria produção nacional de um modo geral, os textos dos quadrinhos selecionados no edital são fracos, embora o traço esmerado de algumas das narrativas da coletânea impressione. A qualidade gráfica do volume também merece destaque. Já a fragilidade dos argumentos talvez se deva ao fato de a maioria dos autores ter recorrido ao mote regionalista. O que leva o leitor a perguntar: se no mundo dos quadrinhos não existem barreiras e as possibilidades narrativas são praticamente infinitas, não seria interessante a moçada deixar de lado essa mania de tratar das “coisas da terra” ou ao menos fazer isso de uma maneira mais inventiva e universal?
Já que o selo Alagoas nos Quadrinhos tem planos de dar sequência aos lançamentos nesse segmento editorial, resta torcer para que as escolhas da próxima leva de HQs contemplem produções mais arrojadas.
A depender do grau de informação e da criatividade do autor, as histórias em quadrinhos podem constituir uma das mais completas formas de expressão artística. Mídia que desde os primórdios atinge um público amplo, no Brasil a arte sequencial conquistou crianças e adolescentes numa época em que não havia tantas opções assim de entretenimento – só para lembrar, nas duas primeiras décadas do último século nem as velhas séries das matinês de cinema eram uma realidade comum. De revistas como a pioneira Tico-Tico aos suplementos dominicais dos periódicos até as sofisticadas graphic novels, as HQs ampliaram cada vez mais seu espaço, atingindo um público leitor adulto, aberto a novas formas de linguagem.
A identificação da arte sequencial como mero entretenimento infanto-juvenil, contudo, persiste, e faz a expressão ser alvo de preconceitos de quem a enxerga como cultura “inferior”. Em contrapartida, certa vez o semiólogo italiano Umberto Eco afirmou que somente quando o estudo das HQs tivesse superado o estágio hermético e o público “culto” resolvesse dar-lhes a mesma atenção que oferece à ópera e a outras manifestações culturais “elevadas” é que seria possível entender sua importância.
Enquanto não se atinge esse nível de compreensão, os artistas fazem o que podem para furar o bloqueio ocasionado por esse preconceito, sempre em busca de levar seu trabalho ao público e, mais importante, garantir que a obra cause ressonância e impacto suficientes para não ficar pelo meio do caminho. Com o propósito de fomentar a ainda exígua produção alagoana no segmento, foi criado o Prêmio Alagoas de Histórias em Quadrinhos.
SERVIÇO
Título: Alagoas Sequencial
Autor(es): vários
Editora: Imprensa Oficial Graciliano Ramos
Preço: R$ 25 (111 págs.)
Onde encontrar: Imprensa Oficial, Revistaria Porto Seguro (Farol), livraria da Edufal (Ufal), Banca Ponta Verde, Banca Nacional (Centro), revistaria Revista & Tabaco (Bompreço Ponta Verde)
Resultado de um edital lançado pela Imprensa Oficial Graciliano Ramos no ano passado, o prêmio contemplou sete artistas, cujos trabalhos foram reunidos na antologia Alagoas Sequencial, editada pelo selo Alagoas nos Quadrinhos, da Imprensa Oficial Graciliano Ramos – que deu sua ‘largada’ no mercado editorial de HQs justamente com a publicação do material. Diversificado em seu conteúdo, o volume compila histórias que exploram referências artísticas e estilos os mais variados; dos traços nitidamente inspirados nos quadrinhos japoneses à influência dos gibis mais comerciais do mercado norte-americano, passando por respingos da literatu-ra de cordel, por uma adaptação literária e até pelo roteiro de um projeto audiovisual.
AS OBRAS
De Mizael Oliveira, a HQ Starknight, que abre a antologia, é um dos poucos enredos do livro que não recorrem ao pano de fundo regional. Com evidente influência dos mangás, tanto na forma como no conteúdo (excetuando, claro, o fato da ordem de leitura não ser invertida como nas publicações japonesas tracionais do gênero), o traço de Mizael também lembra vagamente algo do estilo limpo e clássico do veterano ilustrador brasileiro Watson Portela. Por sua vez, Orquídea, de Michel Alves, é uma daquelas clássicas aventuras protagonizadas por equipes de expedição, repleta de clichês vistos à exaustão em produções hollywoodianas, só que com personagens com nomes comuns aos brasileiros e tendo a floresta amazônica como cenário.
Sorte Grande, do designer gráfico Kleber Lessa, que assina a história sob o pseudônimo de Mateo, participa da coletânea com uma adaptação do roteiro do curta-metragem homônimo do realizador Yuri D’Magalhães, e tem no belo trabalho de ilustração sua principal qualidade. Histórias de Alexandre, de Daniel Conti, é outra adaptação, no caso do conto O Olho Torto, de Graciliano Ramos (1892-1953). A Pega, de Izael Gomes, investe na temática regional. Já Preto que nem Carvão, HQ produzida pelo professor universitário Amaro Braga junto com as alunas Janaina Freitas e Mariana Petróvana, é uma história fofinha de afirmação da negritude, enquanto Menino Cuscuz, de Alexandre Azevedo, narra as aventuras de um garoto que, ao fugir de casa, acaba por se envolver com o cangaço.
Calcanhar de Aquiles não só das obras dos artistas de Alagoas, mas reflexo da própria produção nacional de um modo geral, os textos dos quadrinhos selecionados no edital são fracos, embora o traço esmerado de algumas das narrativas da coletânea impressione. A qualidade gráfica do volume também merece destaque. Já a fragilidade dos argumentos talvez se deva ao fato de a maioria dos autores ter recorrido ao mote regionalista. O que leva o leitor a perguntar: se no mundo dos quadrinhos não existem barreiras e as possibilidades narrativas são praticamente infinitas, não seria interessante a moçada deixar de lado essa mania de tratar das “coisas da terra” ou ao menos fazer isso de uma maneira mais inventiva e universal?
Já que o selo Alagoas nos Quadrinhos tem planos de dar sequência aos lançamentos nesse segmento editorial, resta torcer para que as escolhas da próxima leva de HQs contemplem produções mais arrojadas.
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