Como escolher o próximo livro ou quadrinho que você vai ler? Às vezes seguimos recomendações de amigos, pegamos grandes clássicos ou pesquisamos na internet algumas dicas ou se vale mesmo a pena comprar aquele livro que parece interessante pela capa. Mas é legal também quando entramos numa livraria sem nenhum compromisso com o tempo, folheamos meia dúzia de livros e, sem conhecer absolutamente nada sobre a obra, decidimos levá-la para casa. Foi assim que descobri Cash – Uma Biografia. Encontrei o livro em uma das visitas descompromissadas e sequer sabia da existência de um quadrinho sobre a vida de Johnny Cash – e também nunca tinha escutado nada sobre o seu autor, Reinhard Kleist. Mas depois de uma lida rápida na contracapa e um preço muito alto de um quadrinho sobre um assunto que gosto bastante, porque não? Não parecia má idéia – e não foi.
Depois do sucesso do filme Johnny e June em 2005, a história de Cash passou a ser reproduzida em outras mídias e no ano seguinte Kleist produziu a biografia em quadrinhos do homem de preto. Foi só em 2009 que Cash – Uma Biografia chegou ao Brasil, com tradução de Augusto Paim. Até quem não conhece a fundo a história de um dos maiores nomes do country sabe que Johnny Cash, além de muito talentoso foi também um homem bastante conturbado e de personalidade forte e distinta. Os desenhos de Kleist trabalham bem com esse lado mais pesado do cantor: em algumas partes, basta o silêncio, os tons escuros e uma expressão para a representação dos momentos complicados vividos por ele.
Para quem conhece pouca coisa da história e da obra do Jhonny Cash, a leitura pode ficar um pouco mais complicada. Em algumas passagens, ele representa as músicas de Cash como se ele mesmo as protagonizasse e ao contrário do que conta a canção, ele não atirou em um homem em Reno só para o ver morrer. Momentos delicados como a infância de Cash e sua época no exército são dados a devida importância, mas é impossível resumir os 71 anos de idas e vindas e as fases do cantor em pouco mais de 200 páginas. Mas grandes cenas protagonizadas por ele não passam em branco, como os encontros com Bob Dylan e Elvis Presley e o histórico show na prisão de Folsom, na Califórnia.
Além dos seus difíceis relacionamentos e a dificuldade de lidar com a perda do irmão, Cash – Uma Biografia também passa pelo envolvimento do cantor com drogas pesadas e na difícil perda de June Carter, apesar de, nos quadrinhos, o seu envolvimento com ela ser tratado de forma muito rápida – talvez não pela relevância de seu casamento, mas pela proximidade com o lançamento de Johnny e June, focado neste relacionamento.
Tanto a narrativa quanto o desenho do quadrinho apresentam um Johnny Cash mais sombrio – tanto que o título original é “I See Darkness” – e perturbado pelo passado e pela solidão, expressando tristeza no olhar e na forma visceral que interpretou algumas músicas já no final de sua carreira. Por fim, Cash – Uma biografia funciona mais para um passeio panorâmico – muito agradável, diga-se – sobre a vida do cantor do que para conhecer a fundo a história do mesmo. Depois de terminá-lo, e o quadrinho é daqueles que você lê de uma só vez, a vontade é de percorrer toda a discografia do Cash e buscar conhecer mais sobre sua história. É uma boa obra para quem admira o cantor, encaixando bem as suas canções a episódios que ocorreram em sua vida.
Republicado, com autorização, lá do Torradas Tostadas, o blog da Nina. Via Judão
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